Crítica | Trumbo: Lista Negra




Com uma direção extremamente convencional e aos termos e parâmetros esperados para um filme clichê e "na média" de Hollywood (aquele nem bom, nem ruim, esquecível), um roteiro satisfatório, mas que obviamente poderia ser melhor, e com um carro-chefe na atuação que já provou os seus poderosos e talentosos dotes na televisão, Bryan Cranston (deixou sua marca e nome na inesquecível e igualmente aclamada série de TV Breaking Bad), a biografia de um dos maiores nomes da história cinematográfica, Donald Trumbo, chega às telonas com a sensação amarga de uma obra desperdiçada nas mãos erradas.

Para os que desconhecem o influente nome-título da obra, Trumbo foi um cineasta perseguido durante toda a sua vida por suas posições políticas: era declaradamente comunista em tempos de Guerra-Fria, deixava exposta suas opiniões contra o governo, usou Hollywood, na época infestada por membros adeptos a essa política, para divulgar seus valores esquerdistas por meio de declarações na imprensa, usando seu nome renomado de roteirista para tal, foi preso por suas idéias, inserido em uma lista negra de Hollywood, burlou a mesma e conquistou seu lugar na história do cinema, que nunca mais será apagada.

Muita coisa foi feita por Donald Trumbo, mas pouco foi feito por ele nessa homenagem dirigida por Jay Roach. O cineasta nos propõe, de início, um filme com uma linha que segue em direção a exposição das idéias comunistas de Trumbo, e a verdadeira "caça às bruxas" que Hollywood realizou na época para calar cineastas que, como ele, lutavam pelo direito de pensamento e livre arbítrio político. Os ideais de Donald são expostos de forma rasa, pouco aprofundados e não parecem ser levados a sério em diversos momentos, fazendo Roach parecer adversário às idéias de Trumbo. Nada contra a posição do diretor (que aqui, só existe especulação sobre a mesma) mas espera-se que, quando dirige-se uma obra sobre uma pessoa que tinha ideais que vão de encontro aos seus pensamentos, tenha-se o mínimo de imparcialidade.

A direção e, principalmente, edição amadora, típica de filmes de comédia contemporânea americanos, não nos ajuda a sentir a mínima sensação que seja diante da injusta tortura a qual Trumbo foi submetido enquanto vivo, velando-a e encaixando-a aos recursos mais pobres da sétima arte. Bryan Cranston tem um esforço óbvio e o roteiro jogado injustamente em suas costas, mas nem o seu incrível desempenho (fazendo por merecer o furor em seu nome para a Awards Season) salvam o filme de todo. O ator é, obviamente, melhor que todos os aspectos que a obra tem: é superior a direção, roteiro, fotografia, edição e ao resto do elenco, com as máximas desculpas a Helen Mirren, que prova a cada obra feita que vale o nome que tem, mas que em Trumbo não fez nada que uma atriz sem a metade de seu currículo faria perfeitamente bem e no mesmo nível.

Por fim, o filme se transforma de uma hora para outra, após um clímax sentimental exatamente ao seu meio, em uma homenagem ao cinema Hollywoodiano convencional que na vida real era, ironicamente e totalmente repudiado por Donald Trumbo. É uma aclamação deixada com um ar confuso, assim como todo o filme. Parece mais que vimos dois filmes: um político-denúncia à Hollywood e, mais tarde, uma aclamação e louvação a mesma.

Aprofundando-se nesse conceito, ainda que superficialmente, é irônico pensar que Trumbo foi lançado em uma das mais difíceis épocas que Hollywood enfrenta, presidindo filmes feitos pura e simplesmente para arrecadação de dinheiro, silenciando e ao mesmo tempo negando minorias e acarretando na extinção do cinema autoral.
A não ser que Donald Trumbo, ao longo de sua vida, se estivesse vivo hoje, mudasse suas orientações políticas, duvido seriamente que gostaria do resultado de sua biografia.

Yuri Hollanda

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