Crítica | Maze Runner: Prova de Fogo



O segundo filme da franquia distópica Maze Runner, intitulado "Prova de Fogo", chega aos cinemas mostrando um certo desespero por atenção dos telespectadores, e se desenvolve com uma certa sede ao pote que não é muito bem vinda ou explorada.
Neste volume, o grupo de adolescentes ex-prisioneiros de um misterioso labirinto controlado por uma organização chamada C.R.U.E.L se veem, agora, em um planeta Terra tomado por um vírus que tornou a população em "zumbis".
Em meio a moda do cinema juvenil dos últimos cinco anos, Maze Runner vem com uma proposta já batida: uma série teen onde personagens adolescentes lutam contra uma sociedade controladora. Clichê o bastante para dar errado, e nesse ponto vemos o desespero da franquia em se destacar. O diretor, Wes Ball, que também dirigiu o caprichado primeiro filme conseguindo dar identidade e originalidade a uma série que poderia facilmente se perder em meio a homogeneidade do quadro cinematográfico em que se encontra, vem nesse segundo filme com uma pretensão em que ele mesmo se perde.

É óbvia a intenção do diretor de tentar manter o telespectador atento a sua franquia e alimentar a vontade dos mesmos de seguirem acompanhando Thomas e os outros prisioneiros da C.R.U.E.L na sua sangrenta batalha pela sobrevivência, usufruindo dos meios mais baixos do cinema: a ação típica de blockbusters que são feitos apenas para lucrarem. Enquanto no primeiro filme vemos um grupo de adolescentes mais humanos e inteligentes, em um cenário bastante atrativo com a quantidade exata de ação, romance e mistério, no novo e segundo volume o que temos é uma surra de ação, sequências onde os personagens agem não humanamente e com uma trilha sonora que parece ser sempre a mesma para aquecer as sequências de "tirar o fôlego" que também parecem se repetir durante as duas horas e meia de filme.

Mas "Prova de Fogo", apesar de não seguir a linha qualitativa do seu antecessor, também tem seus atrativos. A franquia se torna totalmente reformulada, com uma fotografia mais rica e grandiosa, efeitos especiais melhores, e locações diferentes. Enquanto no primeiro filme a equipe se virava-nos-trinta para conseguir manter o cenário do filme não repetitivo, tendo, praticamente, apenas uma locação, nesse o número de cenários é gigantesco, o que é um lado bastante positivo para o longa que no fim, percebemos, não tem um terço da história necessária para sustentar suas duas horas. E é por isso que, diante dessa constatação, "Prova de Fogo" usa dos inúmeros artifícios "baratos" do cinema para manter sua audiência acordada.

Mas é aí que o filme se perde. As sequências de ação que só param a cada dez minutos, após a terceira vez, se tornam maçantes. Todas parecem serem as mesmas, mostrando os personagens saindo de suas "enrascadas" de maneiras mais improváveis e inverossímeis possíveis, com um "timing perfeito" para todas as situações de risco que o grupo de fugitivos se metia. Se um deles estava em perigo, algum personagem secundário entra em cena e acaba com o perigo: Se alguma arma é apontada para o protagonista, algum outro personagem aparece do nada e salva o protagonista. Chega uma hora em que as sequencias de ação, que supostamente serviriam para que o público sentisse medo por algum personagem presente na ação, passam a não ter mais sentido visto que todo mundo sabe que em qualquer perigo que o grupo se meter, eles vão se salvar no final.

Os pontos positivos do filme são seus atores carregados de carisma. Dylan O'Brien, na pele do protagonista Thomas, carrega o filme praticamente nas costas, mesmo estando sempre acompanhado de outros atores. Seus movimentos e expressões exageradas combinam perfeitamente com o personagem que é sério e descontraído ao mesmo tempo e acredito que seja uma das grandes razões para que o público passe a ter simpatia pela série. O personagem em si não é grande coisa: o típico herói adolescente acima de qualquer defeito. Mas O'Brien dá uma certa individualidade à Thomas.
Kaya Scodelario, também muito carismática, tem maior tempo em tela do que teve no primeiro filme e satisfaz o público que espera por grandes coisas de sua personagem, Teresa, que teve muita promessa no primeiro filme mas que não cumpriu. A personagem é responsável pelo grande plot twist do filme, dando bastante ênfase, finalmente, às decisões femininas em uma série tão sexista como Maze Runner, onde o herói é um homem e grande parte do elenco também (embora isso seja explicado diante da história do filme).

Finalmente, a sequencia de Maze Runner é um bom filme, mas consegue ser inferior ao primeiro, que já não é grande coisa. O melhor lado da saga é e sempre foi seu cunho social/político, que é a base de todas essas novas distopias do mercado cinematográfico teen atual. Mas ao contrário, por exemplo, de séries como Jogos Vorazes, Maze Runner passa a esquecer da sua mensagem mais forte, que seria o poder manipulador, totalitário e ditador da organização C.R.U.E.L, e passa a focar na ação de gênero e em termos que deveriam ser secundários diante da base bem mais rica em sua história. É uma pena que "Prova de Fogo" tenha decidido desistir de sua mensagem social e embarcado na onda de filmes blockbusters "ação por ação". Apesar de tudo, o filme ainda deixou uma faísca de esperança para um terceiro filme mais social-crítico, como o primeiro foi, com um cliffhanger que promete deixar muitos ansiosos.

Yuri Hollanda

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